domingo, 24 de outubro de 2010

Dilma: Porque não votar.

http://www.dilmaporquenaovotar.com.br/ 
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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A verdade está na cara, mas não se impõe. por Arnaldo Jabor


*Leia o comentário de Dora Kramer, Estadão de Domingo:
'A decisão do TSE que determinou a retirada do comentário de Arnaldo Jabor do site da CBN, a pedido do presidente 'Lula' até pode ter amparo na legislação eleitoral, mas fere o preceito constitucional da liberdade de imprensa.
* Abaixo o comentário.


   O que foi que nos aconteceu?
   No Brasil, estamos diante de acontecimentos inexplicáveis, ou melhor, “explicáveis” demais. Toda a verdade já foi descoberta, todos os crimes provados, todas as mentiras percebidas. Tudo já aconteceu e nada acontece. Os culpados estão catalogados, fichados, e nada rola. A verdade está na cara, mas a verdade não se impõe. Isto é uma situação inédita na História brasileira.
   Claro que a mentira sempre foi a base do sistema político, infiltrada no labirinto das oligarquias, claro que não esquecemos a supressão, a proibição da verdade durante a ditadura, mas nunca a verdade foi tão límpida à nossa frente e, no entanto, tão inútil, impotente, desfigurada, broxa.
   Os fatos reais: com a eleição de Lula, uma quadrilha se enfiou no governo e desviou bilhões de dinheiro público para tomar o Estado e ficar no poder 20 anos. Os culpados são todos conhecidos, tudo está decifrado, os cheques assinados, as contas no estrangeiro, os tapes , as provas irrefutáveis, mas o governo psicopata de Lula nega e ignora tudo. Questionado ou flagrado, o psicopata não se responsabiliza por suas ações. Sempre se acha inocente ou vítima do mundo, do qual tem de se vingar. O outro não existe para ele e não sente nem remorso nem vergonha do que faz. Mente compulsivamente, acreditando na própria mentira, para conseguir poder. Este governo é psicopata.
   Seus membros riem da verdade, viram-lhe as costas, passam-lhe a mão na bunda. A verdade se encolhe, humilhada, num canto.
   E o pior é que o Lula, amparado em sua imagem de “povo”, consegue transformar a Razão em vilã, as provas contra ele em acusações “falsas”, sua condição de cúmplice e comandante em “vítima”. E a população ignorante engole tudo.
   Como é possível isso? Simples: o Judiciário paralítico entoca todos os crimes na fortaleza da lentidão e da impunidade. Só daqui a dois anos serão julgados os indiciados — nos comunica o STF. Os delitos são esquecidos, empacotados, prescrevem. A Lei protege os crimes e regulamenta a própria desmoralização. Jornalistas e formadores de opinião sentem-se inúteis, pois a indignação ficou supérflua. O que dizemos não se escreve, o que escrevemos não se finca, tudo quebra diante do poder da mentira desse governo. Sei que este é um artigo óbvio, repetitivo, inútil, mas tem de ser escrito...
   Está havendo uma desmoralização do pensamento. Deprimo-me: “Denunciar para quê, se indignar com quê? Fazer o quê?”. A existência dessa estirpe de mentirosos está dissolvendo a nossa língua. Este neocinismo está a desmoralizar as palavras, os raciocínios. A língua portuguesa, os textos nos jornais, nos blogs, na TV, rádio, tudo fica ridículo diante da ditadura do lulo-petismo . A cada cassado perdoado, a cada negação do óbvio, a cada testemunha, muda, aumenta a sensação de que as idéias não correspondem mais aos fatos! Pior: que os fatos não são nada — só valem as versões, as manipulações.
   No último ano, tivemos um único momento de verdade, louca, operística, grotesca mas maravilhosa, quando o Roberto Jefferson abriu a cortina do país e deixou-nos ver os intestinos de nossa política.
   Depois surgiram dois grandes documentos históricos: o relatório da CPI dos Correios e o parecer do procurador-geral da República. São verdades cristalinas, com sol a pino. E, no entanto, chegam a ter um sabor quase de “gafe”. Lulo-petistas clamam: “Como é que a Procuradoria Geral, nomeada pelo Lula, tem o desplante de ser tão clara! Como que o Osmar Serraglio pode ser tão explícito, e como o Delcídio Amaral não mentiu em nome do PT? Como ousaram ser honestos?”.
   Sempre que a verdade eclode, reagem. Quando um juiz condena rápido, é chamado de “exibicionista”. Quando apareceu aquela grana toda no Maranhão (lembram, filhinhos?), a família Sarney reagiu ofendida com a falta de “finesse” do governo de FH, que não teve a delicadeza de avisar que a polícia estava chegando...
   Mas agora é diferente. As palavras estão sendo esvaziadas de sentido. Assim como o stalinismo apagava fotos, reescrevia textos para coonestar seus crimes, o governo do Lula está criando uma língua nova, uma novi-língua empobrecedora da ciência política, uma língua esquemática, dualista, maniqueísta, nos preparando para o futuro político simplista que está se consolidando no horizonte. Toda a complexidade rica do país será transformada em uma massa de palavras de ordem, de preconceitos ideológicos movidos a dualismos e oposições, como tendem a fazer o populismo e o simplismo. Lula será eleito por uma oposição mecânica entre ricos e pobres, dividindo o país em “a favor” do povo e “contra”, recauchutando significados que não dão mais conta da circularidade do mundo atual. Teremos o “sim” e o “não”, teremos a depressão da razão de um lado e a psicopatia política de outro, teremos a volta da oposição mundo x Brasil, nacional x internacional. A esquematização dos conceitos, o empobrecimento da linguagem visa à formação de um novo ethos político no país, que favoreça o voluntarismo e legitime o governo de um Lula 2 e um Garotinho depois.
   Assim como vivemos (por sorte...) há três anos sem governo algum, apenas vogando ao vento da bonança financeira mundial, só espero que a consolidação da economia brasileira resista ao cerco político-ideológico de dogmas boçais e impeça a desconstrução antidemocrática. As coisas são mais democráticas que os homens.
   Alguns otimistas dizem: “Não... este maremoto de mentiras nos dará uma fome de verdades!”. Não creio. Vamos ficar viciados na mentira corrente, vamos falar por antônimos. Ficaremos mais cínicos, mais egoístas, mais burros.
   O Lula reeleito será a prova de que os delitos compensaram. A mentira será verdade, e a novi-língua estará consagrada

sábado, 14 de agosto de 2010

A arte de ser avó. Raquel de Queiroz


   Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É, como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto, como o filho adotado: o neto é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo...
   Cinquenta anos, cinquenta e cinco... Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem as suas alegrias, as suas compensações — todos dizem isto embora você pessoalmente, ainda não as tenha descoberto — mas acredita.
   Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade. Não de amores nem de paixões: a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências.   
   A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meus Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos que hoje são seus filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento a prestações, você não encontra de modo nenhum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres - não são mais aquelas crianças que você recorda.
   E então um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis — aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino que lhe é "devolvido". E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário causaria escândalo e decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.
   Sim, tenho certeza que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis. Aliás, desconfio muito de que os netos são melhores que namorados, pois que as violências da mocidade produzem mais lágrimas do que enlevos.
   No entanto — no entanto! — nem tudo são flores no caminho da avó. Há, acima de tudo, a rival: a mãe. Não importa que ela seja sua filha. Não deixa por isso de ser mãe do seu neto. Não importa que ela ensine o menino a lhe dar beijos e a lhe chamar de "vovozinha", e lhe conte que de noite, às vezes, ele de repente acorda e pergunta por você. São lisonjas, nada mais.
   Rigorosamente, nas suas posições respectivas, a mãe e a avó representam, em relação ao neto, papéis muito semelhantes ao da esposa e da amante dos triângulos conjugais.
   A mãe tem todas as vantagens da domesticidade e da presença constante. Dorme com ele, dá-lhe de comer, dá-lhe banho, veste-o. Embala-o de noite. Contra si tem a fadiga da rotina, a obrigação de educar e o ônus de castigar.
   Já a avô, não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do imprevisto.
   Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas não programadas. Leva a passear, "não ralha nunca". Deixa lambuzar de pirulitos. Não tem a menor pretensão pedagógica. É a confidente das horas de ressentimento, o último recurso nos momentos de opressão, a secreta aliada nas crises de rebeldia.
   Uma noite passada em sua casa é uma deliciosa fuga à rotina, tem todos os encantos de uma aventura. Lá não há linha divisória entre o proibido e o permitido. Dormir sem lavar as mãos, recusar a sopa e comer croquetes, tomar café — café! — mexer no armário da louça, fazer trem com as cadeiras da sala, destruir revistas, derramar a água do gato, acender e apagar a luz elétrica mil vezes se quiser e até fingir que está discando o telefone.
   Riscar a parece com o lápis dizendo que foi sem querer — e ser acreditado! Fazer má-criação aos gritos e, em vez de apanhar, ir para os braços da avó e de lá escutar os debates sobre os perigos e os erros da educação moderna.
   Sabe-se que, no reino dos céus, o cristão desfruta os mais requintados prazeres da alma. Porém esses prazeres não estarão muito acima da alegria de sair de mãos dadas com o seu neto, numa manhã de sol. E olhe que aqui embaixo você ainda tem o direito de sentir orgulho, que aos bem-aventurados será defeso. Meu Deus, o olhar das outras avós, com os seus filhotes magricelas ou obesos, a morrerem de inveja do seu maravilhoso neto.
   E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono, abre um olho, lhe reconhece, sorri e diz: "Vó!", seu coração estala de felicidade, como pão ao forno.
   E o misterioso entendimento que há entre avó e neto, na hora em que a mãe o castiga, e ele olha para você, sabendo que, se você não ousa intervir abertamente, pelo menos lhe dá sua incondicional cumplicidade e apoio... Além é claro das compensações....
   Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menininho — involuntariamente! — bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beiço pronto para o choro; e depois, o sorriso malandro e aliviado porque "ninguém" se zangou, o culpado foi a bola mesma, não foi, Vó?

   Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague.

   *Descoberto no momento de minhas reflexões como avó

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

DORA KRAMER Vinhos de outras pipas



O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/08/10

   Obrigados pela lei a fabricar omissões onde a honestidade com o público requereria nitidez, os analistas da cena política são forçados a mentir no rádio e na televisão em suas análises sobre o desempenho dos candidatos presidenciais nesta temporada de debates e entrevistas. De onde se produz, por exemplo, a obra de ficção segundo a qual Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva tiveram atuações “equivalentes” e que são mais ou menos iguais.
   Só na cabeça de ervilha dos parlamentares inspiradores dessa legislação passa a ideia de que a opinião de comentaristas possa criar desigualdade a ponto de distorcer a vontade do eleitor. Por muito mais - o uso desbragado da máquina pública - o presidente da República investe diariamente no desequilíbrio do jogo.
   Até pelo tempo de estrada, se José Serra se apresentasse no mesmo patamar das adversárias seria uma demonstração de incompetência com certidão passada em cartório do céu.
   Serra já disputou várias eleições majoritárias (presidente, prefeito, governador e senador) e passou algumas dezenas de anos fazendo as coisas de modo a um dia concretizar o projeto de ser presidente.
   Suas oponentes entraram nessa vida de exposição, cobranças e assédio praticamente anteontem, sendo que Dilma nunca pediu um voto e Marina se elegeu senadora por um Estado diminuto, o Acre.
   Por essas e algumas outras a exigência do eleitor/telespectador em relação ao tucano é muito mais rigorosa.
   A superioridade de Serra no assunto em pauta, o exercício da Presidência da República, é obvia e irrefutável. Tanto isso é verdade que os correligionários de Dilma comemoraram o fato de ela não ter tido uma atuação desastrosa. A candidata do PT leva vantagem neste aspecto: se não é péssima, fica convencionado que foi ótima.
   Marina fica em certa desvantagem, pois a expectativa de que faça algo exótico e altamente estimulante do ponto de vista eleitoral é muito alta. No primeiro debate de televisão, por exemplo, a candidata do PV teve uma participação, digamos, normal.
   Foi o suficiente para ser considerada a grande perdedora Plínio de Arruda Sampaio, de quem não se esperava coisa alguma, conseguiu “vencer” e, de acordo com a tolice da estação, “bombar no Twitter”, mesmo dizendo ligeirezas radicais. Alguém já pensou o que seria feito de Serra ou de Dilma se à meia-noite um dos dois olhasse fixo para a câmera e falasse olho no olho para “você camponês que está me ouvindo”?
  Pois é, a avaliação do desempenho dos candidatos no debate da Band, nas entrevistas do Jornal Nacional/Jornal das Dez (Globonews), depende da perspectiva e da expectativa do público.
  O PT já está fazendo um carnaval por aí, alegando que a dupla de entrevistadores do JN favoreceu José Serra. Não se vê, entretanto, provas disso. Qual o assunto que poderia ser abordado e não foi? Qual a pergunta que poderia ter sido feita e não foi?
   A temática economia e Banco Central - um tanto elaborada para o público em questão - foi abordada mais tarde no noticiário da TV paga e Serra tirou de letra, ao contrário de ocasiões outras em que saiu de si e caiu na besteira de se irritar quando cobrado sobre o assunto.
   A questão é que a prática tornou Serra afiado no treino e o plano de vida o fez acumular passivo menos polêmico. Não há - ao menos à vista - constrangimentos sérios com os quais possa ser confrontado.
   Dilma, além de precisar responder pelos crimes dos outros ainda tem de ouvir se está preparada para ser presidente. A mesma pergunta para o tucano não faz o menor sentido, a não ser como forma de levantar uma bola para favorecê-lo.
   Já foi dito aqui, mas convém repetir: qualidade de conteúdo e vitória eleitoral não são fatores que andam necessariamente juntos. Nem separados. Já tivemos excelentes governantes bem votados, preparadíssimos candidatos perdedores e fraudes evidentes celebradas pelo eleitor, que nem sempre tem compromisso com a lógica.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Carta Brasil

Para acabar com privilégios e desmandos dos políticos do Brasil, que nós mesmos elegemos, dever ter um 'Projeto Brasil', um estudo sério em todos os setores do país para um desenvolvimento palnejado e metódico com uma cronologia a cumprir. O desenvolvimento será gradual e disseminado em todas as regiões com os projetos imprescindíveis e prioritários a cada uma delas. (assim não se contruiriam pontes antes de ter estradas...)


Aí me perguntariam qual o mérito dos governos/partidos; e eu repondo; quem melhor administrou o país com o maior número de feitos (execução dos projetos) no tempo referente ao mandato. Simples assim! É como premiar o aluno pelas notas altas, permitindo que ele avance em mais outra série de desafios! Quem não for competente, não tem como se reeleger.

"Como seria maravilhoso o meu Brasil".
 
Carolina Murad

domingo, 1 de agosto de 2010

Cara ou Coroa? por Fernando Henrique Cardoso

  
Em pouco mais de dois meses escolheremos o próximo presidente. Tempo mais do que suficiente para um balanço da situação e, sobretudo, para assumirmos a responsabilidade pela escolha que faremos. É inegável que a popularidade de Lula e a sensação de "dinheiro no bolso", materializada no aumento do consumo, podem dar aos eleitores a sensação de que é melhor ficar com o conhecido do que mudar para o incerto.

   Mas o que realmente se conhece? Que nos últimos 20 anos melhorou a vida das pessoas no Brasil, com a abertura da economia, com a estabilidade da moeda trazida pelo Plano Real, com o fim dos monopólios estatais e com as políticas de distribuição de renda simbolizadas pelas bolsas. Foi nessa moldura que Lula pregou sua imagem.
   Arengador de méritos, independentemente do que diga (quase nada diz, mas toca em almas ansiosas por atenção), vem conseguindo confundir a opinião, como se antes dele nada houvesse e depois dele, se não houver a continuidade presumida com a eleição de sua candidata, haverá retrocesso.
   Terá êxito a estratégia? Por enquanto o que chama a atenção é a disposição de bem menos da metade do eleitorado de votar no governo, enquanto a votação oposicionista se mantém consistente próxima da metade. Essa obstinação, a despeito da pressão governamental, impressiona mais do que o fato de Lula ter transferido para sua candidata 35% a 40% dos votos. Assim como impressiona que o apoio aos candidatos não esteja dividido por classes de renda, mas por regiões: pobres do Sul e do Sudeste tendem a votar mais em Serra, assim como ricos do Norte e do Nordeste, em Dilma. O empate, depois de praticamente dois anos de campanha oficial em favor da candidata governista, tem sabor de vitória para a oposição. É como se a lábia presidencial tivesse alcançado um teto. De agora para a frente, a voz deverá ser a de quem o País nunca ouviu, a da candidata. Pode surpreender? Sempre é possível. Mas pelos balbucios escutados falta muito para convencer: falta história nacional, falta clareza nas posições; dá a impressão de que a palavra saiu de um manequim que não tem opiniões fortes sobre os temas e diz, meio desajeitadamente, o que os auditórios querem ouvir.
   Não terá sido essa também a técnica de Lula? Até certo ponto, pois este, quando esbraveja ou quando se aferra pouco à verdade, o faz "autenticamente": sente-se que pode assumir qualquer posição porque em princípio nunca teve posição alguma. Dito em suas próprias palavras: "Sou uma metamorfose ambulante." Ora, o caso da candidata do PT é o oposto (essa é, aliás, sua virtude). Tem opiniões firmes, com as quais podemos ou não concordar, mas ela luta pelo que crê. Este é também seu dilema: ou diz o que crê e possivelmente perde eleitores por seu compromisso com uma visão centralizadora e burocrática da economia e da sociedade ou se metamorfoseia e vira personagem de marqueteiro, pouco convincente.
   Não obstante, muitos comentaristas, como recentemente um punhado de brasilianistas, quando perguntados sobre as diferenças entre as duas candidaturas, pensam que há mais convergências do que discrepâncias entre os candidatos. Será? As comparações feitas, fundadas ou não, apontam mais para o lado psicológico. O que está em jogo, entretanto, é muito mais do que a diferença ou semelhança de personalidades. O quadro fica confundido com a discussão deslocada do plano político para o pessoal e, pior, quando se aceita a confusão a que me referi inicialmente entre a situação de desafogo e bem-estar que o País vive e Lula, que dela se apossou como se fosse obra exclusiva sua. Se tudo converge nos objetivos e se estamos vivendo um bom momento na economia, podem pensar alguns, melhor não trocar o certo pelo duvidoso. Só que o certo foi uma situação herdada, que, embora aperfeiçoada, tem a marca original do fabricante, e o duvidoso é a disposição da herdeira eleitoral de continuar a se inspirar na matriz originária. O candidato da oposição, esse, sim, traz consigo a marca de origem: ajudou a construir a estabilidade, a melhorar as políticas sociais e a promover o progresso econômico.
   Não nos iludamos. O voto decidirá entre dois modelos de sociedade. Um mais centralizador e burocrático, outro mais competitivo e meritocrático. No geral, ambos os oponentes levarão adiante o capitalismo. Estamos longe dos dias em que o PT e sua candidata sonhavam com o que Lula nunca sonhou: o controle social dos meios de produção e uma sociedade socialista. Mas estamos mais perto do que parece de concretizar o que vem sendo esboçado neste segundo mandato petista: mais controle do Estado pelo partido, mais burocratização e corporativismo na economia, mais apostas em controles não democráticos, além de maior aproximação com governos autoritários, revestidos de retórica popular.
   A escolha a ser feita é, portanto, decisiva. Como tudo indica, o teatro eleitoral está-se organizando para esconder o que verdadeiramente está em discussão. Há muita gente nas elites (vilipendiadas pelo lulismo nos comícios, mas amada pelos governantes e beneficiada por suas decisões econômico-financeiras) aceitando confortavelmente a tese de que tanto dá como tanto deu. Dê cara ou dê coroa, sempre haverá "um cara" para desapertar os sapatos. Ledo engano. Há diferenças essenciais entre as duas candidaturas polares. Feitas as apostas e jogado o jogo, será tarde para choramingar: "Ah, eu nunca imaginei isso." Melhor que cada um trate de aprofundar as razões e consequências de seu voto e escolha um ou outro lado.
   Há argumentos para defender qualquer dos dois. Mas que não são a mesma coisa, não são. E não porque num governo haverá fartura e noutro, escassez, para pobres ou ricos. E sim porque num haverá mais transparência e liberdade que no outro. Menos controle policialesco, menos ingerência de forças partidário-sindicais. E menos corrupção, que mais do que um propósito é uma consequência.

SOCIÓLOGO, FOI PRESIDENTE DA REPÚBLICA

sábado, 24 de julho de 2010

Apoios e problemas - por Marco Aurélio Nogueira

 

   É compreensível o empenho do presidente Lula para fazer de Dilma Rousseff a próxima governante do País. Deveria haver menos calor moralizante nas acusações que a ele se fazem. Afinal, não há ocupante de cargo de comando que não queira ver em seu lugar, na impossibilidade de nele continuar, alguém que lhe suceda de modo positivo, isto é, como continuidade, sem ajustes de contas e com os devidos encômios. Quem está prestes a sair de um cargo se move pela pretensão de projetar nele uma sombra, sente-se responsável pelo que virá. Faz isso mesmo sabendo que depois, passados os primeiros meses do novo governo, o sucessor dele se distanciará, ou para alçar voo próprio, ou para corresponder às mudanças de conjuntura ou de correlação de forças.

   Todo governante enfrenta esse dilema quando se aproxima o desfecho de seu mandato. Para ajudá-lo a não cair em tentação os Estados republicanos se valem de mecanismos de controle e moderação - no caso brasileiro, os tribunais eleitorais, por exemplo -, bem como da disseminação, na população e especialmente na classe política, de uma cultura específica e de uma ética pública, imune a invasões espúrias ou particularistas.
   Certos aspectos da conduta de Lula estão associados a essa relação do governante com o Estado. Não são de ordem moral. São éticos e políticos.
   Um deles é o da transgressão da legislação eleitoral, que veta o uso da máquina pública (e, portanto, da palavra, dos atos e do gestual do presidente) para promover e favorecer candidaturas ou coalizões eleitorais. Indiferente aos rigores e às penas da lei, Lula tem sido recorrente na violação das regras e dos limites legais. Foi advertido e multado, pediu desculpas, mas não se abalou. Sua campanha em favor de Dilma ultrapassou a dimensão republicana que se espera seja considerada por qualquer executivo público.
   Esse é um item já bastante destacado pela crônica política. Não é o caso de explorá-lo ainda mais ou de submeter o presidente a um tribunal. Mas dele derivam duas consequências principais, que precisam, no mínimo, ser consideradas.
   A primeira é a banalização da lei, a disseminação de uma imagem de que a lei só vale para os outros, de que sempre se pode dar um jeito de escapar de suas restrições. Lula dá um péssimo exemplo ao País, que fica ainda pior por vir do alto, de uma liderança que goza de extraordinário prestígio e popularidade. Ele, a rigor, não precisaria se dar a tais exageros. Poderia preservar-se e com isso transferir mais valor para nossa República. Seria aplaudido por todos. Como se costuma dizer, é de cima que devem vir os melhores exemplos. Ou, nas palavras de Marina Silva, candidata do PV, "quanto mais amigo do rei, mais alta é a forca".
   Lula tem-se incomodado com o que julga ser um cerco à sua liberdade de opinião e ação, uma tentativa de inibi-lo para que "finja não conhecer" sua candidata. "Há uma premeditação para me tirarem da campanha para impedir que eu ajude a Dilma", disse ele dias atrás. Parece não levar na devida conta certas obrigações do cargo que ocupa.
   A segunda consequência é a fragilização da candidatura Dilma. Ela vem ganhando impulso sem se desvencilhar da acusação de que não consegue andar com as próprias pernas - de que é uma marionete do presidente ou mera criação de marketing, alguém cercado de dúvidas e indefinições. A recente frase da candidata a esse respeito só faz pôr mais lenha na fogueira: "Sou produto feito pelo governo do presidente Lula, um dos maiores governos que este país já teve."
   Pode-se ponderar o quanto for, mas a fragilidade da candidata de Lula é real e subsistirá enquanto ela não revelar seus próprios recursos, em suma, mostrar-se de corpo inteiro, sem suportes externos ou maquiagem.
   Não é difícil imaginar quantos governantes foram eleitos, aqui e no mundo, com apoios ostensivos de líderes prestigiosos. Apesar disso, nem sempre conseguiram fazer bons governos. Muitos foram fracos, confusos, anódinos, como se se ressentissem da saída de cena daqueles que lhes deram vida. Talvez não tenham causado maiores estragos em suas sociedades. Mas certamente contribuíram negativamente tanto para a instituição governo quanto para a própria governança. Fizeram com que seus países ficassem girando em círculos, sem resolver seus problemas e sem definir um rumo para o futuro.
   Não se pode dizer que Dilma Rousseff, se eleita, venha a ser uma presidente fraca. Não há elementos cabais que atestem ou sugiram isso. Mas também não há nada, até agora, que diga o contrário, ou seja, que comprove sua independência, sua capacidade e sua liderança. O fato de ter por trás dela o apoio dedicado de Lula e do PT não lhe concede nenhuma virtude adicional. Esta ela terá de mostrar na prática, quer dizer, indo à luta com os próprios recursos. O discurso continuísta é confortável, mas insuficiente. E a pressão presidencial a seu favor distorce a democracia eleitoral.
   A boa prática de um governante não começa somente quando se inicia seu governo. Começa antes: na sua biografia política, nos apoios que é capaz de agregar, em seu preparo técnico e também no modo como conduz a campanha que o levará ao cargo. Não se trata de exibir "experiência administrativa", mas de fixar uma imagem de autonomia, coerência e consistência.
   A democracia, aliás, espera que todos os candidatos a postos executivos demonstrem ter ideias próprias, capacidade pessoal de liderar o sistema político e de interpelar a sociedade, força magnética para articular apoios e imprimir novos rumos ao país, determinação para fazer frente aos interesses poderosos que tentam retirar soberania do Estado. É essa exigência democrática que continua a dar aos governantes condições de governar com os olhos no conjunto da população e especialmente naqueles que são mantidos em níveis indignos de subsistência e exploração.





PROFESSOR TITULAR DE TEORIA POLÍTICA DA UNESP. E-MAIL: M.A.NOGUEIRA@GLOBO.COM

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Oceano vale mais do que petróleo

   Mais quantas catástrofes ecológicas serão ainda necessárias para concluir que a exploração marítima de petróleo deve ser abandonada enquanto todas as condições de segurança não forem garantidas? Embora atrasadíssima, a decisão tomada anteontem pelo presidente Barack Obama de suspender novas prospecções de petróleo no Golfo do México, além de moratória de mais seis meses na costa atlântica, comprova que seu governo reconhece sérias falhas no processo de fiscalização, citando, inclusive, indícios de corrupção nas relações entre agências regulatórias e indústria do petróleo.

   O alerta serve também para o Brasil.
   Vinte de abril de 2010 entrou lamentavelmente para a História como o dia do mais grave vazamento de óleo dos Estados Unidos. Após 37 dias, ainda não se conseguiu estancar o derramamento em Deepwater Horizon, área onde se localiza a plataforma da British Petroleum (BP), no Golfo do México, no litoral dos estados de Louisiana, Mississippi e Alabama, que vinham duramente se recompondo dos enormes estragos causados pelo furacão Katrina, em 2005.
   Os números são impressionantes: já são 85 milhões de litros de óleo despejados (podendo chegar a 340 milhões), comparados aos 40 milhões vazados do petroleiro “Exxon Valdez”, na região do Alasca, em 1989.
   Pesquisas feitas pelo “New York Times” demonstram que o pior vazamento de óleo de todos os tempos ocorreu, em 1991, quando as forças militares iraquianas se retiraram do Kuwait e abriram os reservatórios, largando 2 bilhões de litros de óleo no Golfo Pérsico.
   Que me desculpem os defensores da indústria petrolífera e da exploração do pré-sal, mas não podemos continuar destruindo nossos ecossistemas, fontes de riqueza e sobrevivência de futuras gerações, sem criar clara consciência ecológica e universal dos altos riscos envolvidos.
   Esta visão imediatista das indústrias que requisitam cada vez mais matérias-primas, como o petróleo, para fabricar seus produtos deve ser reformulada gradualmente em busca de fontes de energia renováveis, que não causem danos graves à natureza ou à saúde. O fortíssimo lobby industrial acaba provocando o nocivo ciclo do lucro a qualquer custo sem que se invista previamente em estudos científicos e tecnológicos cada vez mais precisos para calcular os custos colaterais destas atividades petrolíferas, antes de serem autorizadas com rigoroso monitoramento.
   O episódio do Golfo do México serve de advertência aos governos e candidatos à Presidência ansiosos em dividir o bolo das receitas antes mesmo de se deterem detalhadamente nas minúcias deste processo de exploração nas profundezas do nosso oceano.
   Por um lado, as águas do Golfo do México são consideradas “máquina” de produção de alimentos altamente nutritivos. “Em 2008, as pescas comerciais de cinco estados americanos desta região produziram 590 mil toneladas de peixes e crustáceos avaliadas em US$ 661 milhões” (o equivalente a R$ 1,3 bilhão), informou a Agência de Proteção do Meio Ambiente dos EUA ao site americano Grist. Portanto, as perdas econômicas e sociais são incalculáveis a médio e longo prazos.
   Por outro lado, as empresas petrolíferas sabem bem que as novas descobertas no fundo do mar representam o seu futuro. O Golfo do México produz um terço da produção dos EUA, o equivalente a 1,7 milhão de barris por dia, procedentes de mais de 3 mil metros no fundo do mar. Ao lado do Brasil e da costa ocidental da África, o Golfo é visto como promissora fonte de petróleo.
   Seria uma ilusão acreditar que da noite para o dia poderíamos dispensar o combustível dos carros e renunciar ao petróleo como fonte principal de energia. Mas se as explorações não forem suspensas para análises e severas fiscalizações, como agiram os EUA, podemos chorar por novas catástrofes. E de nada adiantará multar as companhias por seus erros para tentar diminuir a responsabilidade porque os danos são, obviamente, impagáveis.
   É bom lembrar que a avaliação dos dispositivos de segurança das nossas plataformas é feita exclusivamente pelas empresas petrolíferas (resolução 43/07 da Agência Nacional do Petróleo), fato extremamente preocupante.
   Ranulfo Bocayuva l Jornalista e dirtetor-executivo do Grupo A TARDE

terça-feira, 18 de maio de 2010

Buraco negro entre governo e sociedade - O Estado de S. Paulo


Por Arnaldo Jabor


   Diante do pedido de urgência para se votar o projeto da "ficha limpa", irritado com a pressa de mais de 1 milhão e 800 mil assinantes pedindo aprovação, o senador Romero Jucá produziu uma frase definitiva que ilumina o País: "Este projeto Ficha Limpa não é um projeto do Governo; é da sociedade..."
   Com raro e inspirado brilho, o senador, líder do governo Lula, o homem das sete fazendas imaginárias, deu-nos um show de ciência política. A frase é uma síntese do Brasil. É como se o inefável Jucá dissesse: "O tempo do governo é diferente do vosso. O problema é de vocês ? apressadinhos comem cru."
   Sérgio Buarque de Holanda teria aplaudido este belo resumo de nossa organização política e poderia completar, como em seu livro seminal Raízes do Brasil: "...para o funcionário patrimonial a própria gestão política se apresenta como assunto de seu interesse particular; as funções, os empregos e os benefícios que deles aufere, relacionam-se a direitos pessoais do funcionário e não a interesses em que prevaleçam a especialização das funções e o esforço para se assegurarem garantias jurídicas aos cidadãos (...) a democracia no Brasil sempre foi um lamentável mal-entendido. Uma aristocracia rural e semifeudal importou-a e tratou de acomodá-la a seus direitos e privilégios, os mesmos privilégios que tinham sido no Velho Mundo o alvo da luta da burguesia contra os aristocratas. E assim puderam incorporar à situação colonial, ao menos como fachada ou decoração, alguns lemas que pareciam os mais acertados para a época, exaltados nos livros e discursos..."
   Para políticos como Jucá, a única "democracia" é um vago amor pelos amigos, uma poética queda para a camaradagem, a troca de favores, sempre com gestos e abraços risonhos, na doce pederastia de uma sociedade secreta. Somos tecnicamente uma "democracia", que é vivida por eles como porta aberta para oportunismos, pois a "cana" é menos dura...
   A frase iluminada de Jucá mostra-nos que há uma fenda secular, um abismo entre sociedade e governo, que há uma inversão de valores ? o governo tem vida própria e a sociedade existe apenas para legitimá-lo. O Estado é uma ilha de interesses políticos habitado por uma "sociedade" feita de 513 deputados, 82 senadores, funcionários públicos, etc... A frase de Jucá pode ser montada com o belo chiste do Tuma Jr., com seu corpanzil de leão-marinho barbudo: "Tirem o cavalo da chuva... Não vou sair!" Sair por quê? Sair de sua "casa", de sua "propriedade", logo ele que sabe dos segredos de alcova de seus colegas, ele, que administrou ate o caso de Celso Daniel como delegado? "Não vou cair calado!", berrou. Não é sublime tudo isso? Nunca antes, em nossa história, alianças tão espúrias tiveram o condão maravilhoso de nos ensinar tanto sobre o Brasil. A cada dia, nos tornamos mais sábios, mais cultos sobre essa grande chácara de oligarquias.
   Lula teve a esperteza política de usar essa anomalia secular em proveito de seu governo. Todos os presidentes têm de fazer isso, senão não governam, sabemos. Mas, Lula protegeu demais as mentiras para que a falsa verdade do País permaneça. Viciou malandros com uma dieta gorda, cevou-os com uma fé na impunidade sem limites que abriu um caminho difícil de fechar. Aliás, esta foi a realização mais profunda do governo Lula: o escancaramento didático do patrimonialismo burguês e o desenho de um nascente patrimonialismo de Estado.
   Sinto nesses sintomas parlamentares a volúpia de ir contra o senso comum, contra o que a maioria pensa; há uma postura sádica de contrariar a população, de proteger uma obscuridade secreta, de defender o direito à mentira como um bem precioso, um direito natural. Eles se banham na beleza de um "baixo maquiavelismo", no cinismo dos conchavos, atribuem uma destreza de esgrima às chantagens e manipulações. "Esperteza" é um elogio muito mais doce do que "dignidade". Lembram da resistência espantosa de Renan para não sair da presidência da Câmara? Isso parece até um "heroísmo" em prol do personalismo colonial atávico, contra esta "violência" que cidadão "menores" chamam de "interesse público".
   Precisamos entender que o Atraso é um desejo, uma ideologia. Eles são fabricados entre angus e feijoadas do interior, em favores de prefeituras, em pequenos furtos municipais, em conluios perdidos nos grandes sertões. O atraso dá lucro.
   Se o desejo da sociedade se impuser, se a transparência prevalecer, como viverão felizes as famílias oligárquicas? Como vão vicejar as fazendas imaginárias, as certidões falsificadas, os rituais das defraudações, as escrituras e os contratos superfaturados? Que será da indústria da seca, não só da seca do solo, mas a seca mental, em que a estupidez e a miséria são cultivadas para criar bons serviçais para a burguesia semifeudal? Como ficarão as doces camaradagens corruptas em halls de hotel, os almoços gordurosos, as cervejadas de bermudão, as gargalhadas, as "carteiradas" autoritárias, os subornos e as chaves de galão? Como serão os jantares domingueiros, como manter a humilhação e a fidelidade consentida das esposas de botox, o respeito cretino dos filhos psicopatas? Como se manterá a obediência dos peões, dos capatazes analfabetos? Que será do "sistema" cafajeste e careta que rege o País?
   Os congressistas talvez acolham o projeto "Ficha Limpa" pela pressão popular e pela proximidade das eleições; mas, tudo a contragosto, com medo de que sejam desarmados os curraizinhos onde paparicam seus eleitores, com medo de perder o frisson dos jaquetões lustrosos, dos bigodes pintados, das amantes nos contracheques, das imunidades para humilhar garçons e policiais.
   Eles formam um país isolado. Eles detestam tudo que os obrigue a "governar" o outro país, a chamada "sociedade". Estão no Congresso para se proteger de fichas sujas, para levar "vantagem em tudo, certo"? Senão, qual a vantagem da política? 

*Texto de autoria de Arnaldo Jabor publicado no jornal "O Estado de S. Paulo" e divulgado no site do Estadão

domingo, 16 de maio de 2010

Nós no país da ética light - Renato Janine Ribeiro

O Estado de S.Paulo


   As maracutaias do poder nos jogam num 'Brasil do B' em que pagamos tudo dobrado.
   Nós, brasileiros, vivemos o risco de nos tornar um povo blasé. Não passa mês sem a revelação de práticas pouco ortodoxas de nossos homens públicos. Um deles conseguiu do Judiciário, faz um ano, a censura a este jornal. Há dias, soubemos que um dirigente da área de segurança pública mantém amizade e talvez negócios com um suspeito de crimes. Tenho sempre sustentado que a corrupção não aumentou, o que seria lastimável, e sim que cresceram a percepção da corrupção e a aversão a ela, o que é positivo. Devo confessar que esta convicção é o que me poupa de ser blasé. Permite-me esperar que, mesmo num prazo mais demorado do que desejaria, este país se torne um lugar sem miséria, sem injustiça social, sem injustiça, em suma, um país decente.

   O homem público obedece a uma ética diferente da privada? Esta discussão é crucial. Fernando Henrique Cardoso citava Max Weber: enquanto o indivíduo particular - qualquer um de nós - pode pautar suas ações pela moral de princípios, por valores como os dez mandamentos, o político tem de considerar os resultados que sua ação terá. A ética do político seria de resultados, a dos cidadãos seria uma ética de valores ou princípios. FHC tem razão, no sentido de que não basta o político ser honesto: precisa agir para melhorar nossa vida. Mas o problema é que, ouvindo isso, supomos que o homem público tenha uma ética com deságio. Para governar, ele precisaria unir-se a políticos fisiológicos. Na melhor das hipóteses, nossos políticos honestos viveriam uma opção trágica: ou se mantêm honestos e não conseguem aprovar nada que melhore o Brasil, ou cedem a seus aliados ruins - cedendo o menos possível - e aí asseguram algum avanço econômico, social. É um cálculo penoso de custo-benefício. Estou convicto de que os políticos éticos, que os há, vivem essa escolha de sofia.
   Mas não é pouco achar que a vida pública segue uma ética reduzida, light, empobrecida? E se o político devesse ser mais ético, e não menos, que o cidadão privado? Posso estar sendo otimista demais, mas a meu ver quem sinaliza que tem preço acaba, sim, tendo preço. Mostra que pode ser comprado. Já um homem público, em qualquer poder que seja da República, que se mostre honesto estará mais afinado com os sinais de um tempo que parece prezar a transparência e desprezar a corrupção. Pode ser esta a base que falta para finalmente construirmos nossa república: o regime que valoriza a res publica, a coisa pública, o bem comum. A história dispõe de exemplos neste rumo, talvez raros mas veementes - políticos que apelam ao povo, à opinião pública, quando algo no seu meio se mostra podre, errado, inaceitável.
   Dá para aceitar que a proporção de processados, entre os políticos, seja maior do que entre os cidadãos que eles representam? Pouco após o fim da ditadura, um cidadão ofendeu o jornalista Sergio Cabral (pai), dizendo que o parlamento estava cheio de corruptos. Cabral respondeu com verve: "Tenha certeza de que todos os parlamentares foram eleitos e, portanto, todos os cidadãos estão representados por eles, inclusive o senhor". Infelizmente, porém, esse inteligente lembrete - de que os eleitos nos representam - hoje só conta metade da história. É verdade que quem elege ladrões é o povo. Mas também é fato que o sistema é organizado de modo que, às pessoas dignas, a política não soa como a carreira mais adequada. Será preciso muito para mudar isso. Um passo importante pode ser dado com a lei da Ficha Limpa. Também é boa a decisão da Justiça de divulgar na internet o prontuário dos candidatos. Mas o fundamental é não desistir da política, é exigir que os eleitos se pautem por valores que sejam os nossos.
   Acostumamo-nos a viver num país paralelo, um Brasil "do B". Os leitores deste jornal pagam impostos para sustentar a saúde, a educação e a segurança públicas, mas também pagam um seguro-saúde, uma escola particular e um segurança para sua rua ou prédio. Ou seja, pagamos duas vezes a mesma coisa. Isso se justifica? Como não se confia plenamente no Estado, centenas de milhares de brasileiros são voluntários em ONGs. É uma bela atitude - que vai mudar o Brasil. Mas por que aceitamos que o Estado - municipal, estadual ou federal - cumpra só parte de suas tarefas? Por que admitimos essa duplicação de nosso país, um que elegemos e pagamos mas em que não acreditamos, outro que também pagamos e no qual acreditamos mais? O país do Estado e o país da sociedade têm de ser um só. A decepção com os políticos é cara: ela nos força a trabalhar dobrado para, no fim das contas, termos uma sociedade e uma república incompletas.


RENATO JANINE RIBEIRO É PROFESSOR TITULAR DE ÉTICA E FILOSOFIA POLÍTICA DA USP







sexta-feira, 14 de maio de 2010

O fim de uma Europa - Gilles Lapouge – O Estado de S.Paulo

 

 A Europa salvou a Europa. Como se decidiu a isso? Ela viu que o incêndio iniciado na Grécia estava prestes a alcançar todo o continente, carbonizando de passagem a maravilha europeia, sua única glória, a moeda comum. E, diante do perigo, a Europa também agiu e derramou sobre as chamas 750 bilhões. Funcionou.
   A Europa está salva, mas morta. Pelo menos a Europa tal como existiu desde o início da sua construção, em 9 de maio de 1950, há 60 anos.
   Uma longa aventura chegou ao fim nestes dias negros de maio de 2010. O que resta desses 60 anos é uma União falida, Estados em debandada, ressentimentos dos países e das pessoas, nenhuma instituição comunitária legível, um Banco Central Europeu desonrado por sua cegueira e obrigado, a partir de agora, a se submeter aos Estados europeus.
   Uma única Europa sobreviveu ao desastre. A Europa dos egoísmos. Cada país trabalhou em causa própria. Mesmo os seus gestos aparentemente generosos, se observarmos bem, o que indicam O egoísmo nacional.
   Exemplo: Alemanha e França, repentinamente unidas quando se viram à beira do precipício, colocaram a “mão no bolso” e deram à Grécia muitos bilhões de euros. Por que essa generosidade tardia? Para salvar a Grécia? Sim, claro, mas sobretudo para salvar os bancos estrangeiros que emprestaram loucamente muito dinheiro para esse país, dinheiro que essas instituições perderiam se os gregos pedissem falência.
   Ora, e que bancos são esses que emprestaram para a Grécia e era preciso salvar? Bancos franceses e alemães, exatamente. Em outros termos, o generoso plano de salvamento da Grécia, patrocinado por França e Alemanha, foi também um plano para salvar bancos alemães e franceses.
   Uma outra fraqueza da União Europeia: ela jamais teve líderes confiáveis. Durante esta crise, o silêncio dos responsáveis de Bruxelas foi impressionante. O pobre chefe da Comissão Europeia, o português José Manuel Barroso, à sua nulidade habitual acrescentou um outra qualidade: a ausência.
   Por seu lado, o novo presidente da Europa, esse belga cujo nome é Herman van Rompuy e cuja figura é impossível de discernir, não disse uma palavra. Do lado do presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, silêncio! Somente os políticos se manifestaram.
   Sobretudo Nicolas Sarkozy, que falou a respeito em todos os microfones que via e, pelo menos desta vez, falou bem. Foi ele quem sacudiu toda essa gente entorpecida e obrigou os dorminhocos a abrirem o olho.
   Essa crise terá tido, pelo menos, o mérito de soar o alarme e esclarecer as falhas da construção europeia? A constatação mais simples é que foi estúpido impor uma mesma moeda a 16 países que são separados por tudo: força, hábitos, leis, necessidades. Como impor uma mesma moeda a um gigante racional e laborioso como a Alemanha e a um pigmeu irracional e frívolo como a Grécia? Um outro ponto fraco da União Europeia é a sua Constituição (ou seja, o Tratado de Maastricht e o Tratado de Lisboa), um edifício incoerente.
   Por exemplo, o Tratado de Maastricht, que estabeleceu a criação do euro, proíbe aos outros países socorrerem um país enfermo. Se essa regra tivesse sido respeitada, Bruxelas assistiria friamente ao naufrágio da Grécia.
   Assim, foi violando seus próprios estatutos, que a UE finalmente se resignou a partir em socorro dos gregos.
   Mas a responsabilidade da Europa ou da zona do euro é ainda maior: não só o euro não se viu livre de todos os perigos, como foi ele próprio que gerou a enfermidade que quase acabou com a Grécia (e amanhã, talvez, Espanha, Portugal, Irlanda e até França). De que maneira? O euro, ao privar cada país da própria moeda, favoreceu a irresponsabilidade.
   Antes, se a economia de um país fosse administrada de maneira absurda, a moeda nacional era atacada. Duas soluções então, eram possíveis: ou a situação era enfrentada com medidas draconianas para salvar essa moeda, ou então os governos procediam a uma desvalorização. Hoje, contudo, com o desaparecimento das moedas, a desvalorização é impossível. Por outro lado, por que um país cuidaria do seu equilíbrio monetário, orçamentário e financeiro já que, de qualquer maneira, não existe mais uma moeda nacional a defender? Foi portanto o euro, e também a UE, que favoreceu esse fabuloso descuido de quase todos os países europeus, exceto a Alemanha.
   O pior é que ninguém tinha consciência disso. Foi preciso a crise explodir para descobrirmos a que ponto a existência do euro e também da UE aceleraram o desleixo com as regras contábeis mais elementares.
   Hoje sabemos que, tendo como abrigo a vitrine reluzente que é a UE, a Europa tornou-se um “campo de ruínas”.
   A Grécia está deteriorada, claro. Mas os outros países não estão em situação muito melhor. Por toda a parte o que se descobre, com espanto, são dívidas monumentais, intoleráveis, déficits orçamentários insanos, estatísticas maquiladas, fraudadas. Compreende-se o mecanismo dessas condutas absurdas: os países se isentaram de qualquer responsabilidade, já que ela era comunitária e não mais nacional. O que o euro produziu foi uma gigantesca máquina de imprimir dinheiro. Invisível e infernal.
   Nesse sentido, a crise da Grécia, seguida pela do euro, foi um teste saudável. Obriga os países-membros a abandonarem o terreno do imaginário para entrar no do real. Ontem ainda, antes do colapso da Grécia, os países viviam de créditos. O caso da França é exemplar: surgia uma enfermidade? O dr. Sarkozy chegava imediatamente com sua pequena maleta. Mas, dentro dela, o único remédio era este: empréstimos.
   O caso da França não é único. A Inglaterra tem uma dívida vertiginosa. Espanha, Portugal, Itália, todos os países europeus ao abrigo do euro perderam o senso de realidade e se refugiaram numa economia imaginária. E agora a realidade chega a galope. Planos de austeridade ferozes surgem de todos os lados, em Madri, Roma, Londres, Paris, Bucareste.
   Como agir de outro modo? Mas o preço será insuportável. Sabemos os efeitos desses planos de rigor: a produção vai estagnar, até recuar, o desemprego deve explodir. Talvez a inflação. E, como na Grécia, a população sairá às ruas.
   Nesse sentido, podemos dizer que, 60 anos após seu nascimento, a Europa está morta. Ou melhor, “uma” Europa morreu. A “Europa paternalista”, a velha carroça que soube apenas esmagar os Estados sob uma montanha de regulamentos.
   Nada para agradar. Nenhum projeto. Nenhuma exaltação.
   É esse o sintoma mais inquietante do “mal europeu”: salvo no seu início – no término do massacre que foi a 2ª Guerra -, a Europa jamais foi o sonho dos povos. E, depois da crise atual, o desencanto é total. A Europa não faz mais ninguém sonhar.
   Um jornal holandês propôs que a Holanda saia da zona do euro e crie uma pequena Europa, associando-se com o único país bem administrado do continente, a Suíça. A Alemanha sofreu com o euro mais do que desejava. A Inglaterra, que sempre detestou a moeda única, elegeu um primeiro-ministro eurocético. A França tem problemas demais com Sarkozy.
   O tempo urge: se queremos que a crise da Grécia e do euro se limite a matar “uma Europa” e não “a Europa”, é preciso agir rápido. Acabar com os desatinos que essa Europa azeda, burocrática, desconfiada, por tanto tempo nos impingiu. E inventar uma outra Europa, não irresponsável e imaginária, mas realista.
  Realista? Sim, ou seja, uma Europa capaz de nos fazer sonhar.

TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
O AUTOR É CORRESPONDENTE EM PARIS

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Rolling Stones - Plundered My Soul - New Song!

                                          http://migre.me/F1im

Caminho Suave - Dora Kramer

                                                          
                                                     DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


   De tudo o que se vê no noticiário sobre o caso do secretário Nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, flagrado em gravações da Polícia Federal em conversas que caracterizam relações de amizade entre ele e um acusado de integrar a cúpula da máfia chinesa em São Paulo, chama atenção a quantidade de malabarismos feitos pelo governo para não melindrar o secretário.
   Ontem, o Ministério da Justiça anunciou seu licenciamento pelo período de 30 dias, para em seguida ser desmentido por Tuma Júnior que, no comando das operações, optou por férias de 15 dias.
   Fosse qual fosse o modelo, pela natureza do cargo e dos variados fatos surgidos após a divulgação das primeiras gravações (tentativa de relaxamento de um flagrante de apreensão de dólares no aeroporto de Guarulhos, suspeita de intervenção de Tuma Júnior na emissão de vistos ilegais e liberação de mercadorias de pessoas investigadas pela PF) o afastamento deveria ter sido imediato.
   Por precaução no tocante às investigações ou para preservar o governo federal como um todo, independentemente do que venha a ser revelado sobre a extensão da amizade dele com o acusado Li Kwok Kwen.
   Por iniciativa por superiores teria denotado apreço à compostura.
   Passaram-se dias sem que ninguém soubesse o que fazer simplesmente porque, argumentava-se, o secretário era uma indicação direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em atendimento ao senador Romeu Tuma, do PTB de São Paulo.
   Caberia, seria de se supor, ao presidente demiti-lo. Mas, não era seu subordinado direto.
   Esperava-se, então, uma decisão do ministro da Justiça. Mas passou-se a contar com a iniciativa de Tuma Júnior que, mirando-se em exemplos anteriores vindos de cima e segundo os quais quanto mais largas as costas mais quentes os panos, não se mexeu.
   No Palácio do Planalto engendrou-se então uma solução desenhada para ser interpretada como "pressão" para Tuma Júnior pedir para sair: foi dado a ele prazo de cinco dias de prazo para se explicar à Comissão de Ética Pública da Presidência.
   Logo a tão desgastada comissão, desautorizada por Lula numa queda de braço em 2008, com o então ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e que em todas as batalhas em que se envolveu a ética saiu vencida.
   Não será agora que contabilizará sua primeira vitória. Apenas servirá como aval decorativo na construção de um caminho suave à retirada do secretário.
   Conto "das bases". Ainda hoje, 50 anos depois de instalada a capital da República no Planalto Central, deputados e senadores insistem em ignorar que o mandato de representação federal é exercido em Brasília.
   O trabalho "nas bases" diz respeito às respectivas sobrevivências políticas, que deveriam financiar com outras fontes que não o dinheiro do contribuinte que lhes paga salários e benefícios para um expediente de segunda a sexta-feira na capital.
   Mesmo assim surgem propostas, como a do líder do governo Cândido Vaccarezza, em boa hora negada pelo presidente da Câmara, Michel Temer, de antecipar o recesso do meio do ano para antes da Copa do Mundo, a fim de liberar mais cedo suas excelências para as férias e a campanha eleitoral.
   Note-se, período em que se afastam no atendimento a interesse unilateral, pois o contrato das urnas prevê quatro e não três anos e meio de mandato com direito a licença-campanha e bolsa Copa do Mundo.
   Vaccarezza já avisou que vai insistir.
   Conto da desfaçatez. Pode ser chamado de gratuito o horário eleitoral que custa R$ 851 milhões ao Estado? Isso só com a renúncia fiscal decorrente da compensação às emissoras de rádio e televisão pelas perdas com a publicidade comercial que deixam de exibir, sem contar a parcela do Orçamento destinada anualmente ao Fundo Partidário.
  O horário é gratuito para os partidos que ainda se dão ao desfrute de dizer que enquanto não for instituído o financiamento público as campanhas eleitorais continuarão "reféns" do caixa 2.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Licença para roubar - NELSON MOTTA - O Estado de Sao Paulo

                                                                

Não é preciso criar nenhuma lei nem fazer qualquer debate ou votação. É mais prático e direto do que uma reforma eleitoral, sem financiamento público e voto em listas, nem riscos para o estado de direito e a democracia. Muito pelo contrário.
   Basta fazer como democracias civilizadas e definir, julgar e punir o "caixa 2" pelo que ele é: um crime mais grave do que o roubo para uso próprio. Porque lesa não só uma pessoa física ou jurídica, mas toda a sociedade, para fraudar o processo eleitoral e corromper a vontade dos cidadãos, desmoralizando as instituições democráticas e afrontando a lei e a Justiça.
   O "caixa 2" é um delito mais grave do que um simples roubo público ou privado como os que enchem os noticiários. Alguns desses ladrões são presos e o produto dos crimes pode ser recuperado. Mas os que roubam para fraudar o processo eleitoral, alegando que não é para uso próprio (embora às vezes seja), mas pela "causa", não são presos, não devolvem o dinheiro, nem pagam os irreparáveis prejuízos à democracia, são heróis da impunidade em seus partidos.
   "Ah, é só caixa 2". Alguém imagina o Obama dizendo isto? Nem Berlusconi ousaria. Aqui, presidentes de partidos e até da República dizem, considerando como atenuante o que é agravante. Seu corolário "todo mundo faz" minimiza e absolve o delito, e pereniza o atraso político.
   Por que Estados Unidos, Inglaterra, França e Itália julgam crimes políticos como mais graves do que os comuns, com cadeia e multas pesadas por conspiração contra o estado democrático e suas instituições?
   Talvez porque eles não têm esse jeitinho brasileiro de ser democrata, esse hábito de nivelar por baixo e de se contentar com pouco. Construíram democracias em que a lei é para todos, onde não há causa, por melhor que seja, que justifique a sua transgressão. Em ditaduras, leis espúrias podem e devem ser transgredidas na luta pela democracia, mas, quando finalmente a conquistamos, isto só a corrompe e avilta.
   Enquanto formos escravos desse passado, não há esperança de vencermos o medo de viver em uma democracia que seja realmente de todos.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Uma estranha no espelho - Dora Kramer


Dilma Rousseff tem estilo definido adquirido ao longo da vida e características que determinam seu comportamento: modo de falar, maneira de pensar, forma de manifestar o raciocínio e de expressar o gestual. É assim com todo mundo.

  Para simplificar, chamemos de personalidade o conjunto de características que faz as pessoas se conduzirem desse ou daquele jeito no convívio externo e as leva a orientar seus mecanismos internos conforme critérios particulares.
  Cobra-se de Dilma Rousseff uma “mudança de discurso” nessa fase inicial da pré-campanha, a fim de corrigir falhas que, segundo avaliação do presidente Luiz Inácio da Silva, já esboçadas pelo comando da campanha do PT, deixam em vantagem o pré-candidato do PSDB, José Serra.
  Na realidade o que se quer de Dilma é que altere sua personalidade, que seja outra pessoa. De uma hora para outra abandone o palavreado técnico que fazia dormir plateias no Palácio do Planalto e assuma um vocabulário de termos sintéticos, empolgantes.
  Que saia dos gabinetes para os palanques a seduzir multidões, cheia de charme; que sorria; que nunca mais chame ninguém de “minha filhinha” ao dirigir-se a jornalistas em entrevista; que não ponha o dedo em riste no rosto do interlocutor; diga frases curtas e, por Deus, complete o raciocínio.

  Consta também que Dilma precisa demonstrar segurança e “passar” experiência, não se envolver em tantas polêmicas e, de preferência, deixar de lado esse negócio de ficar comparando os governos Lula e FHC.
  A estratégia do plebiscito “nós contra eles” foi inventada por Lula. Não deu certo por erro de cálculo do presidente, que imaginou poder estabelecer a pauta da campanha.
  Quanto à reinvenção de Dilma, ela já mudou em relação ao modelo original e provavelmente aí tenha residido o maior equívoco. Não na constatação de que a figura irritadiça não saberia bem ao paladar do eleitor.
  Mas na crença irreal de que em questão de meses seria possível incorporar características inteiramente novas em alguém, algumas opostas à natureza da pessoa.
Por que será que Dilma não consegue completar um raciocínio? Muito possivelmente porque não se reconhece na estranha personagem, não tem segurança sobre como se comportar, nunca sabe se está no caminho certo, se o que está dizendo corresponde ou não ao que esperam dela.

  Dois exemplos para comparação.
  Quando esteve no Congresso e se envolveu num bate-boca com o líder do DEM, senador Agripino Maia, sobre mentiras ditas durante torturas, Dilma foi Dilma.
  Dura, antipática, jamais poderia com aquele tom enfrentar uma campanha eleitoral em que teria de abordar outras questões. Mas dominava o tema, levou Agripino às cordas, segura feito rocha.
  Quem era a pessoa que na semana passada estava sendo entrevistada pelo apresentador José Luiz Datena, da TV Bandei­­­rantes? Ninguém. Alguém que saíra de si e ainda vagava feito ectoplasma sem conseguir a incorporação adequada.
  Sorria sem espontaneidade, segurava as mãos com receio do dedo em riste escapulir, não dava sentido às respostas. Não sabia era como falar na televisão como candidata, como de resto se viu no governo, não sabe dar entrevista, não sabe lidar com imprensa, não é do ramo dela o público.
  Nota-se, Lula e José Serra também mudaram. Mas aproveitaram o que já tinham, não foram artificialmente virados do avesso. Lula deixou de lado o enfezado e assumiu o bem-humorado. Serra agora já não emburra, não se isola e resolveu relaxar, mostrar a face oculta.
Ambos depois de muito errar, de muito apanhar e ao constatar que estavam diante da derradeira chance.

  O que se exige de Dilma é que passe a ser aos 62 anos de idade uma pessoa oposta ao que sempre foi e numa atividade nova, diferente da que sempre exerceu.

Sobreviventes
  Ao contrário de Ciro Gomes, que morreu na praia afogado na rede da proximidade política, Marina Silva e o PMDB sobreviveram a Lula. Marina, porque foi cuidar da vida rompendo os velhos laços de afinidade.
  E o PMDB ao impor sua força sem se conduzir como aliado submisso.

Agência Estado • dora.kramer@grupoestado.com.br

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Listen free nice music!


                                                               http://blip.fm/carumurad

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Bibioteca do Congresso - EUA

Foto: Michael Dersin

A história contada por meio de tweets - Rafael Cabral - Est. de S.Paulo

   Já escreveu uma baita besteira no Twitter? Se o seu perfil não for fechado, saiba que não tem mais volta. Nem adianta deletar. Tudo o que você e todas as outras pessoas cadastradas no Twitter escreveram agora está arquivado na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, que tem o maior acervo de livros e documentos do mundo.

   A instituição comprou todo o acervo da ferramenta, desde a primeira mensagem-teste que o fundador Jack Dorsey deixou por lá, em 2006. O anúncio foi feito na última quarta-feira, durante uma palestra do CEO da empresa, Evan Williams, para desenvolvedores.
   Os servidores da biblioteca, que já são entupidos com mais de 167 terabytes de informações digitais acumuladas desde 2000, terão ainda mais trabalho: mais de 50 milhões de mensagens entram no ar, por dia, no serviço de microblogging – contando com as suas, que agora estão entre os mais de 21 milhões de livros da instituição, sem nem precisar de uma editora para isso.
   A iniciativa faz parte de um amplo projeto de preservação de documentos digitais, que acabariam mortos ou só seriam resgatados por organizações independentes como a Wayback Machine. “Fico confuso só de pensar no quanto podemos aprender sobre nós mesmos com esse tanto de informações”, opinou Matt Raymond, no blog da biblioteca.
   Mas pode ficar tranquilo. Mensagens de cunho estritamente pessoal e direct messages não contam. E o arquivo será acessado apenas por pesquisadores.
   Porém, outra novidade anunciada no mesmo dia tornará grande parte dele público – ou pelo menos tudo aquilo que ainda estiver online. O Google anunciou uma busca específica para tweets ‘históricos’, mais difíceis de rastrear em ferramentas comuns, como a do próprio Twitter.
   O serviço já entrou no ar, experimentalmente, no Google, mas, por enquanto, só mostra tweets de 11 de fevereiro de 2010 em diante. Mas o plano é que tudo esteja disponível, para todos, já nos próximos meses.

MICRONOTAS
100 MILHÕES
 Quantidade de usuários atingida pelo Twitter. Com o acesso cada vez mais fácil por aparelhos móveis, o site espera angariar mais centenas de milhares nos próximos anos.

TWEET PATROCINADO
 A nova plataforma de publicidade do Twitter é o primeiro grande esforço para tornar o site rentável.

TWT.TL
 Em uma tentativa de diminuir a atuação de spammers, o Twitter lançou seu próprio encurtador de URLs. Por enquanto, ele funciona apenas para DMs e e-mails de notificação.

#TTFAIL
 A opção de trocar a localidade dos trending topics ficou desativada por ao menos quatro dias. O twitter divulgou que desabilitou a função

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Mais que imperfeito - Dora Kramer

O Estado de S. Paulo - 16/04/2010


  A manobra protelatória em curso na Câmara dos Deputados, para não votar a emenda que proíbe candidatos condenados por crimes graves de disputar eleições e ao mesmo tempo fugir do desgaste junto à opinião pública, é tão escancarada que seria ingênua não fosse a quintessência da embromação.
  O projeto de emenda constitucional é de iniciativa popular. Ao todo, entre assinaturas no papel e via internet, conta com o aval de 3,3 milhões de cidadãos. Chegou ao Congresso em setembro de 2009, mas é assunto discutido com mais insistência e destaque desde as eleições municipais de 2008, quando as listagens de candidatos condenados publicadas por diversas entidades não surtiram o menor efeito.
  Uma quantidade considerável deles foi eleita e/ou reeleita. Se isso se deve ao desinteresse do eleitor ou ao sistema proporcional de votação, em que se escolhe um e se elege outro, não se sabe.
  Muito bem. Fato é que o Parlamento brasileiro teve tempo de sobra para discutir e esmiuçar o assunto e não fez. Só em abril, o presidente da Câmara, Michel Temer, anunciou a inclusão do tema na pauta de votação alertando, porém, que havia "resistências".
  Discussões para lá e para cá, a proposta inicial terminou "flexibilizada". O que era simples ficou intrincado. Antes, ficavam proibidos de se candidatar os condenados em primeira instância, ou com denúncia recebida por órgão colegiado, por crimes dolosos contra a vida, abuso de autoridade, crimes eleitorais, contra a economia popular, fé pública, administração e tráfico de drogas.
  Como no plenário não passaria nem essa nem outra proposta intermediária, a emenda voltou para a Comissão de Constituição e Justiça, que já não propõe proibição alguma. Permite que os condenados recorram a tribunais superiores, dá a eles o direito de se valerem de liminares, e exige que cada crime seja claramente definido e tipificado (como se já não o estivessem nos respectivos códigos) para justificar a condenação.
  Alegação: se não houver esse "aperfeiçoamento" a lei acabará sendo derrubada nos tribunais e tendo apenas um efeito demagógico.
  Na realidade, esse "aperfeiçoamento" retira da emenda todo o sentido original do veto ao acesso de condenados por crimes graves ao Parlamento, onde hoje um quarto dos deputados e senadores tem pendências na Justiça.
  Ao que parece, esse tipo de situação é que carece de aperfeiçoamento, não uma regra à qual se submetem os candidatos a concursos públicos e nem por isso são subtraídos em seus direitos e garantias constitucionais.
  Nome certo. O indiciamento de Valdebran Padilha por fraude em licitação pública, corrupção ativa e formação de quadrilha mostra que o indivíduo não é um mero "aloprado" como o presidente Lula apelidou a turma de petistas que tentou comprar um dossiê contra José Serra na eleição para governador de São Paulo em 2006.
  Aloprado" é um sujeito amalucado. Padilha, segundo a polícia, é bandido mesmo.

  Obscuro objeto. Como instrumento de campanha política, a internet vai se revelando uma ilustre desconhecida. Terreno em que todos transitarão em risco de erro permanente.
  A invasão do site do PT foi um sinal importante.
  Houve insinuações de que o PSDB pudesse ser o responsável pela imagem do candidato José Serra pedindo votos em plena "casa" do adversário. Difícil, ali não faria nem para o cafezinho.
  Petistas seriam capazes disso só para constranger o adversário? Têm mais o que fazer na campanha.
  Conclusão: coisa de desocupados que não compreendem a seriedade do assunto em pauta.
  Firmeza. Marina Silva já disse que perdia o pescoço, mas não perdia o juízo. Ao se recusar a posar com a bandeira do movimento gay mostrou que perde voto, mas não perde a coerência.

Carta ao Ministro Wagner Rossi por Jogi Humberto Oshiai

Ao Senhor Ministro do MAPA


Wagner Rossi

Queira receber os meus votos de muito sucesso neste novo desafio com vistas a continuar o trabalho profissional desempenhado pelo ex-Ministro Stephanes no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) na defesa dos interesses do agronegócios brasileiro.
Permito-me salientar, igualmente, a considerável importância do trabalho que tem sido realizado na área de sanidade animal pelo Secretário Inácio Kroetz e equipe da Secretaria de Defesa Animal (SDA/MAPA). Na capital da União Européia pude testemunhar o excelente trabalho da SDA/MAPA para tentar reverter os contenciosos no setor de carne bovina para ter novamente acesso ao mercado do nosso principal parceiro comercial no setor de agronegócios - União Européia!
Vale sublinhar as ações adotadas pela referida Secretaria na implementação da legislação e reestruturação do SISBOV e a adoção da GTA eletrônica, entre outras, e o excelente desempenho realizado no controle da febre aftosa que possibilitou o levantamento das suspensões comunitárias as exportações de carne bovina in natura dos Estados de MS, PR e SP, além da habilitação das áreas não habilitadas do Estado de MT sem inspeção prévia dos inspetores do FVO.
A título de contribuição, informo que no recente resultado da pesquisa realizada junto aos consumidores europeus de 27 Estados-Membros sobre a Política Agrícola Comum ficou claro o apoio dos referidos consumidores à manutenção da PAC. Os consumidores europeus expressaram, igualmente, o interesse de que a UE mantenha na sua agenda temas de relevância como Qualidade e Segurança dos alimentos, Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Sustentável no qual está incluído diretamente o tema de Bem Estar Animal.
À propósito do tema de Bem Estar Animal, permito-me sugerir reflexão sobre os erros que foram cometidos no passado com o SISBOV e que poderiam doravante ser evitados no que se refere ao Bem Estar Animal caso Vossa Excelência venha a tomar a iniciativa de passar este assunto para a SDA/MAPA que conta com profissionais especializados no assunto. O tema de Bem Estar Animal tem evoluído na União Européia, na FAO e no mundo e pode eventualmente se tornar em uma barreira não tarifária as nossas exportações de produtos de origem animal ao mercado comunitário e também de terceiros países caso o assunto seja novamente mal administrado como foi o SISBOV antes de ser transferido para a SDA/MAPA.



Respeitosamente,

Jogi Humberto Oshiai
Diretor para Comércio da América Latina junto à UE
O'Connor and Company
Bruxelas - Bélgica

terça-feira, 13 de abril de 2010

O perido da 'grande marcha'... à ré - O Estado de S. Paulo

Arnaldo Jabor


   Lula é um "reality show" permanente. Lula está em "fremente lua de mel consigo mesmo", como dizia Nelson Rodrigues.
   Mas, em sua viagem narcisista começam os sintomas do erro. A sensatez do velho sindicalista virou deslumbramento. Um dia, abraça o Collor, no outro, está com o Hamas e Irã.
   Freud (não o Freud Godoy dos "aloprados"...) tem um trabalho clássico, O Fracasso Após o Triunfo, no qual mostra que há indivíduos que lutam e vencem, e, depois da vitória, se destroem, porque muitos carregam no inconsciente complexos inibidores do pleno sucesso. Quanto mais medíocre é o dirigente, mais ele despreza a inteligência e a cultura e se transforma numa ilha cercada de medíocres.
   Será que foi por isso que Lula escolheu uma senhora sem tempero, uma gaffeuse sem prática, com "olhos de vingança", como me disse um taxista? Parece um sintoma.

   A grande ironia é que Lula foi reeleito por FHC. Sem o Plano Real, o governo Lula seria o pior desastre de nossa História. E, ajudado também pela economia mundial em bonança compradora, ele hoje diz que é responsável pelos bons índices econômicos que o governo anterior organizou. E não cai um raio do céu em cima...
   Afinal, o que fez o governo Lula, além de se aproveitar do que chamava de "herança maldita", além do Bolsa-Família expandido e dos show de TV? Os primeiros dois anos foram gastos no "assembleísmo" vacilante dos "Conselhos" que ele nunca ouviu, depois a briga com a "gangue" dos quatro do PT, expulsos.   Depois, a aventura da quadrilha de corruptos "revolucionários" que Roberto Jefferson desbaratou ? para sua e nossa sorte ?, livrando-o do Dirceu e de seus comunas mais ativos. Aí, Lula pôde voltar ao seu populismo personalista.
   Lula continua o símbolo do "povo" que chegou ao poder, mascote dos desvalidos e símbolo sexual da Academia. Lula descobriu que a economia anda sozinha, que basta imitar o Jânio Quadros, o inventor da "política do espetáculo", e propagar aos berros o tal PAC, esse plano virtual dos palanques. Lula tem a aura sagrada, "cristã" do mito de operário ignorante e, por isso, intocável. Poucos têm coragem de desmentir esse dogma, como a virgindade de Nossa Senhora...

   Por isso, vivemos um importante momento histórico, que pode marcar o Brasil por muitos anos. Agora, com as eleições, vai explodir a guerra com o sindicalismo enquistado no Estado: 200 mil contratados com a voracidade militante de uma porcada magra que não quer largar o batatal. Para isso, topam tudo: calúnias, números mentirosos, alianças com a direita mais maléfica, tudo para manter o terrível "patrimonialismo de Estado". Não esqueçamos que o PT combateu o Plano Real até no STF, como fez com a Lei de Responsabilidade Fiscal, assim como não assinou a Constituição de 88. Este é o PT que quer ficar na era pós-Lula. Seu lema parece ser: "Em vez de burgueses reacionários mamando na viúva, nós, do povo, nela mamaremos."
   Os "companheiros" trabalham sincronizados como um formigueiro. O sujeito pode até bater na mãe que continua "companheiro". Só deixa de sê-lo se criticar o partido, como o Paulo Venceslau, que ousou denunciar roubos nas prefeituras, que depois se confirmaram na tragédia de Celso Daniel.

FHC resumiu bem: se continuar o "lulismo" com sua tarefeira Dilma, "sobrará um subperonismo contagiando os dóceis fragmentos partidários, uma burocracia sindical aninhada no Estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão".
   Ou seja, o velho Brasil volta ao seu pior formato tradicional, renascendo como rabo de lagarto. O País tem um movimento "regressista" natural, uma vocação populista automática. Será o início da grande marcha à ré...
   Com a eventual vitória do programa do PT, teremos a reestatização da economia, o inchamento maior ainda da máquina pública, a destruição das Agências Reguladoras, da Lei de Responsabilidade Fiscal, em busca de um getulismo tardio, uma visão do Estado como centro de tudo, com desprezo pelas reformas, horror pela administração e amor aos mecanismos de "controle" da sociedade, essa "massa atrasada" inferior aos "revolucionários". A esquerda psicótica continua fixada na ideia de "unidade", de "centro", de Estado-pai, de apagamento de diferenças, ignorando a intrincada sociedade com bilhões de desejos e contradições.

   A tarefa principal da campanha de Serra será explicar qual é o "pensamento tucano". Como ensinar a população ignorante que só um choque democrático e empresarial pode enxugar a máquina podre das oligarquias enquistadas no Estado? Como explicar um programa de "mudanças possíveis" na infraestrutura e na educação, contraposto a esse marketing salvacionista de Lula? Esse é o desafio da campanha do PSDB.
   Aécio Neves fez bem em se indignar com a demagogia de Dilma no túmulo de Tancredo ? ele nos lembrou que o PT não apenas não apoiou Tancredo em 85, como expulsou seus três deputados que votaram nas eleições pela democracia.

   A maior realização deste governo foi a desmontagem da Razão. Podemos decifrar, analisar, comprovar crimes ou roubos, mas nada acontece. Ninguém tem palavras para exprimir indignação, ou melhor, ninguém tem mais indignação para exprimir em palavras.
   Aécio Neves devia ir além e ser vice, sim. Seria um gesto histórico que lhe daria riquíssimos frutos, para além do interesse pessoal de uma política imediata. Aécio ganharia uma rara grandeza na história do País.  Seu avô aprovaria.
   Só uma alternância de poder, fundamental na democracia, pode desfazer a sinistra política que topa tudo pelo poder e que planeja, com descaro, transformar-se numa espécie do PRI mexicano, que ficou 70 anos no poder, desde 1929. Durante o poder do PRI, as eleições eram uma simulação de aparente democracia, incluindo repressão e violência contra os eleitores. Em 1990, o escritor peruano Mario Vargas Llosa chamou o governo mexicano, sob o PRI, de uma "ditadura perfeita". Será que isso nos espera?

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Tragédia anunciada - Autor: Antonio Penteado Mendonça – O Estado de São Paulo


Se o governo federal quisesse, parte dos prejuízos das famílias atingidas pelas chuvas poderia ser repassada a companhias de seguros. As chuvas que devastaram o Rio de Janeiro, ao contrário do que as autoridades tentam fazer crer, eram perfeitamente previsíveis. E os estragos atingiram a dimensão de catástrofe por incúria destas mesmas autoridades. Mas o fenômeno não é exclusivo, ao contrário, se espalha por todas as unidades da Federação.
Ao longo das últimas décadas, o Brasil assistiu a ocupação desordenada do solo urbano, sem que o Poder Público tenha feito nada para impedir ou ao menos organizar as invasões.

Pegando como exemplo o Estado de São Paulo, basta ver o que aconteceu nas áreas de proteção ambiental em volta das represas Billings e Guarapiranga, nas terras reservadas para a expansão do aeroporto de Guarulhos, no Jardim Pantanal e, quem sabe o mais grave de todos, nos chamados “Bairros Cota”, na beira da Via Anchieta.
Mas São Paulo tem um lado positivo. Faz anos que são feitas obras para tentar conter as enchentes de verão, não só na Capital, como em várias outras cidades. Mesmo com elas, este ano as chuvas pegaram pesado e os estragos foram significativos. Evidentemente, seriam menores se o Poder Público, em vez de fazer demagogia, usasse seu poder de polícia para impedir a ocupação de áreas de proteção ou áreas de risco.
No Rio de Janeiro a situação é muito mais grave, sob todos os aspectos. O aumento desenfreado da ocupação dos morros pelas favelas pode ser visto diariamente, com os barracos se espalhando pelas encostas, destruindo a vegetação nativa e, curiosamente, criando uma imagem de sonho, ou de cartão postal, com as luzes acesas enfeitando poeticamente as noites, enquanto no interior das favelas a violência e a barbárie correm soltas, incentivadas pela quase que absoluta ausência do Estado.
De outro lado, o Poder Público, além de muita conversa, faz muito pouco, tanto na capital, como em outras regiões sujeitas a eventos climáticos com potencial catastrófico.

Não tinha como ser diferente. E o argumento de que a chuva cai quando Deus quer não pode ser invocado para minimizar responsabilidades. Uma coisa é chover, outra é um morro vir abaixo, destruindo centenas de moradias construídas sem qualquer tecnologia e em local proibido.
Se o governo federal quisesse, parte dos prejuízos das famílias atingidas poderia ser repassada para companhias de seguros. Faz tempo que a ideia do microsseguro como ferramenta de desenvolvimento social agregada ao programa Bolsa Família vem sendo discutida, inclusive nesta coluna. Mas o Governo Federal também não fez nada.
O resultado é que, como tem acontecido ao longo dos anos, tragédia após tragédia, a sociedade brasileira vai morrer com a conta. A começar pelos repasses de dinheiro feitos por Brasília, tudo o que o Poder Público destinar para minorar o drama social é dinheiro de impostos e que estará sendo desviado de novos investimentos para fazer frente a um evento que precisa ser amparado.
É verdade que, ainda que o programa Bolsa Família incluísse seguro para os edifícios atingidos, o Governo teria que suportar o grosso da conta. È assim no mundo inteiro. Mas a parcela do seguro, caso ele existisse, faria uma grande diferença para as famílias, individualmente, já que seus imóveis e pertences seriam indenizados levando em conta a realidade e o seguro de cada uma.
Como estes seguros não existem, as seguradoras indenizarão alguns imóveis com apólices atípicas e raramente contratadas, que tenham cobertura para deslizamento de terra, desmoronamento e danos causados pela água, e veículos com seguros compreensivos, que são as apólices que indenizam este tipo de dano.
Na prática, o total destas indenizações representa remédio para uma parcela insignificante dos prejuízos materiais que as chuvas causaram, principalmente aos cidadãos de baixa renda. Isso, para não falar no valor das centenas de vidas perdidas em consequência dos temporais. Se a tragédia servir de lição, é tempo de se pensar em soluções rápidas para minorar os problemas do ano que vem. Aí o seguro aparece em primeiro lugar.

sábado, 27 de março de 2010

Joelmir Beting




Se beber não dirija. Nem governe.



'Até aqui, em 40 meses de governo, o presidente Lula já cometeu 102 viagens ao mundo. Ou mais de duas por mês, tal como semana sim, semana não.



Sem contar, ora pois, as até aqui, 283 viagens pelo Brasil. Hoje, dia 15, ele completa 382 dias fora do país desde a posse. E pelo Brasil, no mesmo período, 602 dias fora de Brasília. Total da itinerância presidencial, caso único no mundo e na História: Exatos 984 dias fora do Palácio, em exatos 1.201 dias de presidência. Equivale a 81,9% do seu mandato fora do seu gabinete. Esta é a defesa da tese de que ele não sabia e nem sabe de nada do que acontece no Palácio do Planalto.



Governar ou despachar, nem pensar. A ordem é circular. A qualquer pretexto. E sendo aqui deselegante, digo que o presidente não é (nem nunca foi) chegado ao batente, ao despacho, ao expediente. Jamais poderá mourejar no gabinete, dez horas por dia, um simpático

mandatário que tem na biografia o nunca ter se sentado à mesa nem para estudar, que dirá para trabalhar.'



E o povão ainda aplaude e vota.

Jorge Ben Jor

Continua sensacional e arrebatando admiradores de todas as idades. Adorei o show! Pena que as pessoas em Presidente Prudente nao comparecem em massa nos eventos da cidade...
Jorge Ben Jor - Os Alquimistas Estão Chegando
http://www.youtube.com/watch?v=PTeLOZ4kLWU